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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Guerra do Paraguai

                                 |Guerra do Paraguai


   A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul. Ela foi travada entre o Paraguai e a Tríplice Aliança, composta por Brasil, Argentina e Uruguai. A guerra estendeu-se de dezembro de 1864 a março de 1870. É também chamada Guerra da Tríplice Aliança (Guerra de la Triple Alianza), na Argentina e Uruguai, e de Guerra Grande, no Paraguai.
  O conflito iniciou-se com a invasão da província brasileira de Mato Grosso pelo exército do Paraguai, sob ordens do presidente Francisco Solano López. O ataque paraguaio ocorreu após uma intervenção armada do Brasil no Uruguai, em 1863, que pôs fim à guerra civil uruguaia ao depor o presidente Atanasio Aguirre, do Partido Blanco, e empossar seu rival colorado, Venancio Flores. Solano López temia que o Império brasileiro e a República Argentina viessem a desmantelar os países menores do Cone Sul. Para confrontar essa suposta ameaça, Solano López esperava contar com o apoio dos blancos, no Uruguai, e dos caudilhos do norte da Argentina. O temor do presidente paraguaio levou-o a aprisionar, em 11 de novembro de 1864, o vapor brasileiro Marquês de Olinda, que transportava o presidente da província de Mato Grosso, mas que o governo paraguaio suspeitava que contivesse armas. Seis semanas depois, o Paraguai invadiu o Mato Grosso. Antes da intervenção brasileira no Uruguai, Solano López já vinha comprando material bélico moderno, em preparação para um futuro conflito.
  O Brasil, Argentina e Uruguai, aliados, derrotaram o Paraguai após mais de cinco anos de lutas durante os quais o Brasil enviou em torno de 150 mil homens à guerra. Cerca de 50 mil não voltaram alguns autores asseveram que as mortes no caso do Brasil podem ter alcançado 60 mil se forem incluídos civis, principalmente nas então províncias do Rio Grande do Sul e de Mato Grosso. Argentina e Uruguai sofreram perdas proporcionalmente pesadas mais de 50% de suas tropas faleceram durante a guerra apesar de, em números absolutos, serem menos significativas. Já as perdas humanas sofridas pelo Paraguai, são calculadas em até 300 mil pessoas, entre civis e militares, mortos em decorrência dos combates, das epidemias que se alastraram durante a guerra, e da fome.
  A derrota marcou uma reviravolta decisiva na história do Paraguai, tornando-o um dos países mais atrasados da América do Sul, devido ao seu decréscimo populacional, ocupação militar por quase dez anos, pagamento de pesada indenização de guerra, no caso do Brasil até a Segunda Guerra Mundial, e perda de praticamente 40% de seu território para o Brasil e Argentina. Após a Guerra, por décadas, o Paraguai manteve-se sob a hegemonia brasileira.
  Foi o último de quatro conflitos armados internacionais, na chamada Questão do Prata, que o Brasil lutou no século XIX, pela supremacia sul-americana. Tendo o primeiro sido a Guerra da Cisplatina, o segundo a Guerra do Prata, e o terceiro a Guerra do Uruguai.

Historiografia

(Ofencivas do Paraguai e da Tríplice Aliança)
   A Historiografia da Guerra do Paraguai sofreu mudanças profundas desde o desencadeamento do conflito. Durante e após a guerra, a historiografia dos países envolvidos limitou-se a explicar suas causas como devida apenas à ambição expansionista e desmedida de Solano López. A partir dos anos 1960, uma segunda corrente historiográfica, mais comprometida com a luta ideológica contemporânea desta década entre o capitalismo e o comunismo, e direita e esquerda, apresentou a versão de que o conflito bélico teria sido motivado pelos interesses do Império Britânico que buscava a qualquer custo impedir a ascensão de uma nação latino-americana poderosa militar e economicamente. A partir dos anos 1980, novos estudos propuseram razões diferentes, revelando que as causas se deveram aos processos de construção dos Estados nacionais dos países envolvidos.
  Este verbete tomará como base os estudos mais recentes a respeito da Guerra do Paraguai realizados por historiadores profissionais, mas também apresentará em determinados pontos, para efeito de comparação, as alegações das outras duas correntes historiográficas anteriores e ultrapassadas (tradicional e revisionista).


Causas

  Após o término da Guerra do Prata em 1852 com a vitória dos aliados (unitaristas argentinos, colorados uruguaios e Império do Brasil) sobre os federalistas argentinos e blancos uruguaios liderados por Juan Manoel Rosas, a região do Prata foi pacificada. Contudo, não tardou para que logo as rivalidades se acirrassem entre a Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai graças aos desentendimentos quanto às fronteiras entre os países, a liberdade de navegação dos rios platinos, as disputas pelo poder por parte das facções locais (federalistas e unitaristas na Argentina, e blancos e colorados no Uruguai) e rivalidades históricas de mais de três séculos. O historiador Francisco Doratioto conclui:
A Guerra do Paraguai foi fruto das contradições platinas, tendo como razão última a consolidação dos Estados nacionais na região. Essas contradições se cristalizaram em torno da Guerra Civil uruguaia, iniciada com o apoio do governo argentino aos sublevados, na qual o Brasil interveio e o Paraguai também. Contudo, isso não significa que o conflito fosse a única saída para o difícil quadro regional. A guerra era umas das opções possíveis, que acabou por se concretizar, uma vez que interessava a todos os Estados envolvidos. Seus governantes, tendo por bases informações parciais ou falsas do contexto platino e do inimigo em potencial, anteviram um conflito rápido, no qual seus objetivos seriam alcançados com o menor custo possível. Aqui não há ‘bandidos’ ou ‘mocinhos’, como quer o revisionismo infantil, mas sim interesses. A guerra era vista por diferentes ópticas: para Solano López era a oportunidade de colocar seu país como potência regional e ter acesso ao mar pelo porto de Montevidéu, graças a aliança com os blancos uruguaios e os federalistas argentinos, representados por Urquiza; para Bartolomeu Mitre era a forma de consolidar o Estado centralizado argentino, eliminando os apoios externos aos federalistas, proporcionando pelos blancos e por Solano López; para os blancos, o apoio militar paraguaio contra argentinos e brasileiros viabilizaria impedir que seus dois vizinhos continuassem a intervir no Uruguai; para o Império, a guerra contra o Paraguai não era esperada, nem desejada, mas, iniciada, pensou-se que a vitória brasileira seria rápida e poria fim ao litígio fronteiriço entre os dois países e às ameaças à livre navegação, e permitira depor Solano López.

Dos erros de análise dos homens de Estado envolvidos nesses acontecimentos, o que maior consequência teve foi o de Solano López, pois seu país viu-se arrasado materialmente no final da guerra. E, recorde-se, foi ele o agressor, ao iniciar a guerra contra o Brasil e, em seguida, com a Argentina.


(Batalha do Avahy)

Influências

  No século XIX, as nações americanas emancipadas após a crise do sistema colonial se lançaram ao desafio de estabelecerem a soberania política e econômica de seus territórios. Essa seria uma tarefa bastante difícil, pois passados séculos de dominação colonial, esses novos países teriam que enfrentar os desafios estabelecidos pelo capitalismo industrial e financeiro do período.
  Segundo alguns estudiosos, o processo de independência das nações latino-americanas não significou o fim da subserviência política e da dependência econômica. Sob outros moldes, esses países ainda estavam presos a instituições corruptas e a antiga economia agroexportadora. Contrariando essa tendência geral, durante o século XIX, o Paraguai implementou um conjunto de medidas que buscavam modernizar o país.
  Nos governos de José Francia (1811-1840) e Carlos López (1840-1862) o analfabetismo foi erradicado do país e várias fábricas foram instaladas com o subsídio estatal. Além disso, melhorou o abastecimento alimentício com uma reforma agrária que reestruturou a produção agrícola paraguaia ao dar insumos e materiais para que os camponeses produzissem. Esse conjunto de medidas melhorou a condição de vida da população e fez surgir uma indústria autônoma e competitiva.
  No ano de 1862, Solano López chegou ao poder com o objetivo de dar continuidade às conquistas dos governos anteriores. Nessa época, um dos grandes problemas da economia paraguaia se encontrava na ausência de saídas marítimas que escoassem a sua produção industrial. Os produtos paraguaios tinham que atravessar a região da Bacia do Prata, que abrangia possessões territoriais do Brasil, Uruguai e Argentina.
  Segundo alguns historiadores, essa travessia pela Bacia do Prata era responsável, vez ou outra, pela deflagração de inconvenientes diplomáticos entre os países envolvidos. Visando melhorar o desempenho de sua economia, Solano pretendia organizar um projeto de expansão territorial que lhe oferecesse uma saída para o mar. Dessa maneira, o governo paraguaio se voltou à produção de armamentos e a ampliação dos exércitos que seriam posteriormente usados em uma batalha expansionista.
  No entanto, outra corrente historiográfica atribuiu o início da guerra aos interesses econômicos que a Inglaterra tinha na região. De acordo com essa perspectiva, o governo britânico pressionou o Brasil e a Argentina a declararem guerra ao Paraguai alegando que teriam vantagens econômicas e empréstimos ingleses caso impedissem a ascensão da economia paraguaia. Com isso, a Inglaterra procurava impedir o aparecimento de um concorrente comercial autônomo que servisse de modelo às demais nações latino-americanas.
  Sob esse clima de tensões, a Argentina tentava dar apoio a consolidação de um novo governo no Uruguai favorável ao ressurgimento do antigo Vice Reinado da Prata, que englobava as regiões da Argentina, do Paraguai e Uruguai. Em contrapartida, o Brasil era contra essa tendência, defendendo a livre navegação do Rio da Prata. Temendo esse outro projeto expansionista, posteriormente defendido por Solano López, o governo de Dom Pedro II decidiu interceder na política uruguaia.
  Após invadir o Uruguai, retaliando os políticos uruguaios expansionistas, o governo brasileiro passou a ser hostilizado por Solano, que aprisionou o navio brasileiro Marquês de Olinda. Com esse episódio, o Brasil decidiu declarar guerra ao Paraguai. A Inglaterra, favorável ao conflito, concedeu empréstimos e defendeu a entrada da Argentina e do Uruguai na guerra.
  Em 1865, Uruguai, Brasil e Argentina formaram a Tríplice Aliança com o objetivo de aniquilar as tropas paraguaias. Inicialmente, os exércitos paraguaios obtiveram algumas vitórias que foram anuladas pela superioridade do contingente militar e o patrocínio inglês da Tríplice Aliança.
  Mesmo assim, as boas condições estruturais e o alto grau de organização dos exércitos paraguaios fizeram com que a guerra se arrastasse por cinco anos. Somente na série de batalhas acontecidas entre 1868 e 1869, que os exércitos da Tríplice Aliança garantiram a rendição paraguaia.
  O saldo final da guerra foi desastroso. O Paraguai teve cerca de 80% de sua população de jovens adultos morta. O país sofreu uma enorme recessão econômica que empobreceu o Paraguai durante muito tempo. Com o final da guerra, o Brasil conservou suas posses na região do Prata.
  Em contrapartida, o governo imperial contraiu um elevado montante de dívidas com a Inglaterra e fez do Exército uma instituição interessada em interferir nas questões políticas nacionais. A maior beneficiada com o conflito foi a Inglaterra, que barrou o aparecimento de uma concorrente comercial e lucrou com os juros dos empréstimos contraídos.

A Imprensa
  A imprensa foi farta em noticiar e analisar todos os aspectos que envolviam a
Guerra do Paraguai. Recrutamento forçado, charges sobre a convocação de pessoas doentes e de velhos raquíticos, grandes negociatas, arbitrariedades de toda a sorte e até mesmo críticas a comandantes, na condução da luta, eram assuntos constantes nos jornais da época.
  O “Diário de São Paulo”, um dos jornais pesquisados, fundado em 1865 por Pedro
Taques de Almeida Alvim e Henrique Schoeder, refletia a fase de mudanças em que o país entrava. A agitação e as contradições da sociedade brasileira, sobretudo o problema da escravidão, a reforma eleitoral, o federalismo e a questão religiosa, são temas abordados em seus artigos.
  No editorial de 8 de novembro de 1865, este jornal sugere, que o recrutamento seja dividido igualmente entre as províncias, para não abalar a agricultura, lembrando que o número de pessoas recrutadas, soma-se aos que se embrenham no mato, para escapar do conflito. Tais fatos explicariam a queda da produção agrícola em nossa província. Em
Franca um caso mereceu espaço. Trata-se dos desertores do Cel. Drago, que armados enfrentaram a polícia.
  Por estes acontecimentos, podemos notar que o povo repelia a idéia de seguir para a guerra e isto já era registrado no início do conflito, quando ainda se pensava que a vitória seria rápida, um verdadeiro passeio ao Paraguai. A tendência foi, portanto de crescimento desta fobia, na medida em que o confronto se agravou e as notícias de reveses e perdas humanas, começaram a chegar ao Brasil. Os jornais estão repletos de casos de perseguições políticas, no recrutamento. No “Diário de São Paulo” de 11 de novembro de1865, os conservadores são acusados, de mandar desafetos políticos para a linha de frente.
  Patriotas e voluntários são satirizados. As charges apanham aspectos curiosos e verdadeiros. “Uma casa é invadida e o marido é arrastado de sua própria cama, sob a alegação de que se os solteiros fogem os casados não escapam”.
  Na verdade, mesmo provando o estado civil e a idade superior a trinta anos, os homens são forçados a seguir para a luta, portando documentos falsos com a data de idade abaixo da verdadeira. Naturalmente, tudo providenciado, pelas autoridades encarregadas em recrutar voluntários. Isto explicaria o elevado número de deserções e até a crise agrícola, pois a guerra levou arrimos de famílias e braços da lavoura.
  O próprio povo repudiava os critérios de recrutamento, conforme artigo no
“Diário de São Paulo”, de 21 de novembro de 1865. A população vendo a tropa em formação comentava entre si: este não chega em Santos, tal o estado lastimável em que o recrutado se encontrava. Fato confirmado, porque o infeliz logo a seguir teve ataque e caiu morto. Este acontecimento dá uma idéia do tipo de inspeção feita pelas autoridades competentes, bem como dos alistados para a luta.


Notícias dos Anos Finais da Guerra

(Solano Lopez, como sanguínario)
Com a ocupação de Assunção desaparecem: Lopez e tropas. Todo o corpo diplomático e a população paraguaia.“Afinal pergunta o jornal “Ipiranga”: -onde estão os paraguaios?
  Em 28 de fevereiro de 1869, o edital do Ipiranga critica a Missão Paranhos, que instala um governo provisório no Paraguai. Segundo o jornal a guerra não está terminada e este governo não representa o povo do país. Toda a imprensa consultada sobre este período, é implacável em relação a esta medida dos aliados. Em artigo de 3 de abril de 1869, o “Ipiranga” critica a nomeação do Conde d’Eu, para comandar as forças brasileiras no Paraguai.
  Caxias ao sair da guerra se justificara, alegando que a luta nesta fase, seria tarefa não para um general, mas para um “capitão do mato”. Fato que levou o jornal a concluir que certamente o Conde d’Eu, teria o perfil para o cargo... A bancarrota nos bate à porta, as instituições correm perigo e a nossa vida como nação está abalada em função do interminável conflito.
  O prolongamento da guerra era sentido em todos os aspectos da vida do país e embora Caxias considerasse a luta terminada, ela continuava mais viva do que nunca. O tema emancipação dos escravos começa a aparecer com freqüência nos jornais, nestes últimos anos de guerra. Este é o assunto de 20 de abril de 1869, no “Ipiranga”, que reproduz carta do senador Nabuco de Araújo à Sociedade Democrática Limeirense, sobre o projeto da mesma, para emancipar escravos. Terminar a guerra e libertar escravos são os mais importantes problemas brasileiros neste momento, segundo o editorial.
  A “Reforma”, que começa a circular na Corte à 12 de maio de 1869, dirigida por
Francisco Otaviano, foi o jornal mais prestigiado de sua época. Originando-se no “Clube da Reforma”, fundado pelos liberais, marcou sua atuação política por cobrar mudanças que acompanhassem o desenvolvimento econômico do país. Em artigo de 29 de junho de 1869, informa que chega ao fim o drama paraguaio, só restando a Lopez fugir ou morrer. Notícias falsas haviam circulado, dizendo que Lopez havia pedido uma entrevista ao Conde d’Eu.
  O jornal confirma que Lopez em uma sangrenta retirada, havia mandado lancear sessenta e sete senhoras paraguaias. Estas tiveram que presenciar antes, a morte de seus filhos. Tais fatos ocorreram, porque os envolvidos foram acusados de colaborar com o inimigo e participarem da conspiração contra Lopez. Em outro artigo, discute-se o estabelecimento do governo provisório no Paraguai pelos aliados, medida mais uma vez criticada. “O ministro Itaboraí garante que a guerra terminará em seis meses. Será que as nossas finanças agüentam até lá?”
  Em matéria de 9 de julho de 1869, o jornal censura a atitude de Caxias, que no comando da guerra permitiu a fuga de Lopez com cerca de 90 homens sem ao menos perseguí-los. Este é outro aspecto, que a imprensa toda aborda, considerando inexplicável a atitude do comandante brasileiro. Na medida em que a Guerra do Paraguai foi chegando ao fim, crescia a agitação no país, agravando-se as contradições sociais. Retratando este momento histórico, vem a nota do jornal “Opinião Liberal”, publicado na Corte a 13 de dezembro de 1867.
  Foi resolvido no conselho de Ministros a desapropriação de 30 mil escravos para formarem um novo exército libertador do Paraguai. Fechadas as câmaras, meter-se-ão mãos a obra como urgência que o caso exige. Com tal exército e espera o governo salvar a honra do país e desagravá-lo das ofensas recebidas. A conseguir tal resultado o Gabinete Zacarias que deve sua existência ao elemento servil terá de registrar mais um grande motivo de gratidão a este elemento. Limitamo-nos a consignar tão importante notícia; aguardamos por ora os comentários.
  Em 28 de fevereiro de 1868, a questão da guerra é discutida sob o lema: “Paz! Paz! É o brado do povo oprimido”. O artigo diz que o conflito converteu-se num desastre e prolongalo seria criar um verdadeiro cataclisma.
  Os caprichos do governo imperial desde a questão com o Uruguai em 1864, nos envolveu nesta situação, em que a maior vítima é o povo, submetido a um recrutamento feroz. Continuar a guerra é matar o país. A honra da nação foi entregue a prisioneiros e pretos minas. Isto é uma mentira!
  Curioso observar que mesmo com todas as pressões, estes aspectos não passavam pela opinião pública da época. Ao negro e à massa sem direitos políticos, cabia defender uma nação de oligarquias rurais. O recrutamento mesmo antes da guerra era uma questão polêmica, abalando inclusive a economia do país. Com a luta, as desapropriações de escravos atingiram enormes proporções e embora fossem indenizados, os fazendeiros viam as lavouras atingidas, já que não era fácil substituí-los.
  Sabe-se que a maior despesa da guerra, segundo Nelson Werneck Sodré, foi gasta com alforrias. Segundo o mesmo autor isto seria também um estímulo à extinção do escravismo, fato confirmado no fim do conflito. O jornal “Opinião Liberal”, reflete em seus artigos a fase de estagnação da luta, depois do fracasso de Curupaiti.
  Caxias salvaria o império escravocrata mais uma vez. Muito embora, fosse acusado de demorar-se demais. Tempo gasto para enquadrar os libertos e discipliná-los para a “Dezembrada”, fulminante ofensiva brasileira ocorrida em dezembro de 1868, obtendo Caxias sucessivas vitórias: Avaí (6 a 12); Lomas Valentinas (21 a 27) e Angostura (30 a 12); terminando com a resistência de Lopez.
  Na revista do Instituto Histórico Geográfico de Mato Grosso, 1951/1952 tomo 65 a 68, o artigo de José Mesquita, “Gente e cousas de antanho”, lembra a epidemia de varíola que atingiu Cuiabá durante a guerra. Outro fato mencionado foi o mau tratamento dispensado aos prisioneiros brasileiros no Paraguai, inclusive dando o exemplo de Carneiro Campos, que não resistindo aos maus tratos, faleceu em Passo Pacu a 4 de novembro de 1867.
  Estes relatos demonstram que os perigos da guerra não se esgotavam na mesma. Incluíam também as doenças, as longas marchas até os campos de batalha, não se estranhando portanto o pavor popular e o elevado número de desertores. Se o nosso exército era composto de 80% de combatentes negros, já que quatro entre cinco convocados eram homens de cor, temos aí um retrato de cotidiano, enfrentado por estes homens. Era publicado pelo “Diário de São Paulo”, a 5 de janeiro de 1870, sob o título “Notícias da Guerra” extrato da Tribuna de Montevidéu o seguinte comunicado: O General Câmara, regressa de sua última expedição a Tacuaty. Não consegue aprisionar a força de Romero, em virtude do calor asfixiante. Comenta-se que Lopez em desespero, embriaga-se frequentemente. Mme.Lynch, insiste para que o presidente acabe com o conflito e termine com os sofrimentos do povo.
  Um capitão paraguaio aprisionado, informou ao exército brasileiro, que Lopez pretende fugir para a Bolívia, embora este fato seja pouco provável, dada as dificuldades que terá de vencer. Em 7 de janeiro, o editorial do mesmo jornal, critica o governo liberal, acusado de ter lançado o país na guerra, com a absurda “Missão Saraiva”, ultimato dado pelo Conselheiro José Antonio Saraiva, que foi enviado a Montevidéu pelo governo imperial para pressionar o Presidente Aguirre. Tais fatos, culminaram na intervenção militar brasileira contra o Uruguai, provocando a Guerra contra o Paraguai, ligado a este país por tratados de defesa mútua.
  Até o final da luta ocorrem denúncias de recrutamento forçado, sobretudo de desafetos políticos. A péssima situação dos inválidos de guerra é notícia constante nestes dias que antecipam o fim do conflito. O ataque a Lopez é eminente cuja posição já é conhecida. Seu exército está muito debilitado e vem sendo atacado também por índios Caiguases e Maracagues.
  Um capitão improvisado.
  Theophilo Carneiro de Mendonça com uniforme de capitão de exército passou a recrutar e agenciar voluntários da região de Barra do Piraí. Recebeu adiantamentos de vários fazendeiros, expediu telegramas à Presidência da Província. Até ser descoberto, que o referido capitão, era desertor do Batalhão de Goiás. A polícia o remeteu para Barra do Piraí.
  A guerra proporcionou golpes de indivíduos inexcrupulosos como o citado pelo trecho acima. A 11 de janeiro de 1870, o Conselheiro Paranhos e o General Polidoro fizeram uma subscrição para ajudar famílias brasileiras libertadas dos acampamentos de Lopez. Dentre as famílias estava a viúva do famoso guia Lopez, que participou da Retirada de Laguna. Transcrevendo matéria da folha de Assunção “Regeneração” sob o título:
“Cinquenta mulheres para um homem”, o jornal declara: “Pobre Paraguai, temos que restabelecer o equilíbrio que nos países ricos chega a alcançar 3 mulheres para cada homem”.
  A maioria dos homens paraguaios sucumbiu com a guerra, restando mulheres, velhos e crianças. Esta é a realidade após o conflito, por isso o jornal de Assunção pede a adoção do casamento civil. A 19 de março de 1870 o governo da Província de São Paulo recebe o seguinte telegrama: Eis que ontem foi dirigido a Sua Excia o Senhor Presidente da Província, confirmando o término da guerra.Da parte oficial do General Câmara: Ilmo e Exmo Sr: Escrevo do acampamento em meio à serra. O tirano foi derrotado. Não querendo render-se, foi morto. Intimei-lhe a ordem de rendição, quando já estava conpletamente derrotado e gravemente ferido, ao que não acedeu. O general Resquim e outros chefes e oficiais estão prisioneiros.”
 “Dou parabéns a V. Excia. Pela terminação da guerra e do inteiro desagravo que teve o Brasil do tirano do Paraguai. Viva o Imperador!
Viva o exército brasileiro! Viva a Nação Brasileira!
  O Ministério da Guerra expedia também um comunicado, informando que estava
“gloriosamente terminada”, a Guerra do Paraguai. O jornal “A Republica” – Ano I, Rio de Janeiro, publicava entre seus anúncios, o lançamento do livro do Cel. Sena Madureira:
“Guerra do Paraguai, a resposta do Sr. George Thompsom aos seus anotadores argentinos”.
(Batalha naval do Riachuelo)
  As polêmicas que envolviam a Guerra, agora terminada, começavam: Uma delas seria a verdadeira História da Batalha do Riachuelo. Em artigo publicado no Jornal do Comércio de 15 de agosto de 1878, o Barão da Passagem, chefe da esquadra imperial, comenta que o Almirante Tamandaré deu ordem de desviar o navio Amazonas, das canhoneiras paraguaias. Tal manobra terminou abalroando outros navios inimigos, tática de incrível efeito, sendo usado então o Amazonas como um aríete contra as embarcações do Paraguai.
  Este fato provocou a vitória brasileira portanto um acidente constituiu-se na
“famosa estratégia”, utilizada por Tamandaré, para derrotar a armada inimiga. O Almirante Barroso indignado contestou esta versão apoiando Tamandaré. O artigo demonstra que determinados fatos da guerra, não tinham uma interpretação única, nem mesmo entre os militares. Em 1928 na Revista “O Guarani” de 24 de dezembro, um artigo analisa a situação do Chaco. Lembrando a Guerra de 1970, encontramos um interessante comentário: “Os ricos foram os únicos que não estavam sob as ordens de Lopez. Ao contrário, traíram o Paraguai, empunhando a bandeira da Legião”.
 
Conclusão

  As aldeias paraguaias destruídas pela guerra foram abandonadas e os camponeses sobreviventes migraram para os arredores de Assunção, dedicando-se à agricultura de subsistência na região central do país. As terras das outras regiões foram vendidas a estrangeiros, principalmente argentinos, e transformadas em latifúndios. A indústria entrou em decadência. O mercado paraguaio abriu-se para os produtos ingleses e o país viu-se forçado a contrair seu primeiro empréstimo no exterior: um milhão de libras da Inglaterra, que se pode considerar a potência mais beneficiada por esta guerra, pois além de ver extinta a competição paraguaia na América do Sul como exemplo de desenvolvimento, viu Brasil e a Argentina aumentarem suas dívidas externas.
(Festejos para a vitória brasileira)
  Depois da guerra, boa parte das melhores terras do Paraguai foi anexada pelos vencedores. O Brasil ficou com a região entre os rios Apa e Branco, aumentando para o sul o estado do Mato Grosso. A Argentina anexou o território das Missões e a área conhecida como Chaco Central (território argentino de Formosa). Durante todo o tempo da campanha, as províncias de Entre Rios e Corrientes abasteceram as tropas brasileiras com gado, gêneros alimentícios e outros produtos.
  O Brasil, que sustentou praticamente sozinho a guerra, pagou um preço alto pela vitória. Durante os cinco anos de lutas, as despesas do Império chegaram ao dobro de sua receita, provocando uma crise financeira. A escravidão passou a ser questionada, pois os escravos que lutaram pelo Brasil permaneceram escravos.
  O Exército Brasileiro passou a ser uma força nova e expressiva dentro da vida nacional. Transformara-se numa instituição forte que, com a guerra, ganhara tradições e coesão interna e representaria um papel significativo no desenvolvimento posterior da história do país. Além disso, houve a formação de um inquietante espírito corporativista no exército.



8 comentários:

  1. A Guerra do Paraguai teve seu início no ano de 1864, a partir da ambição do ditador Francisco Solano Lopes, que tinha como objetivo aumentar o território paraguaio e obter uma saída para o Oceano Atlântico, através dos rios da Bacia do Prata. Ele iniciou o confronto com a criação de inúmeros obstáculos impostos às embarcações brasileiras que se dirigiam a Mato Grosso através da capital paraguaia.

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  2. Antes da guerra, o Paraguai era uma potência econômica na América do Sul. Além disso, era um país independente das nações européias. Para a Inglaterra, este país era um exemplo que não deveria ser seguido pelos demais países latino-americanos, que eram totalmente dependentes do império inglês. Foi por isso, que os ingleses ficaram ao lado dos países da Tríplice Aliança, emprestando dinheiro e oferecendo apoio militar. Era interessante para a Inglaterra enfraquecer e eliminar um exemplo de sucesso e independência na América Latina. Após este conflito, o Paraguai nunca mais voltou a ser um país com um bom índice de desenvolvimento econômico, pelo contrário, passa atualmente por dificuldades políticas e econômicas.

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  3. O Paraguai era um dos países mais desenvolvidos da América do Sul, se equivalia ao Estados Unidos do mundo atual. Todo esse avanço amedrontava os ingleses que estavam à procura de novos mercados consumidores. Por isso todo o interresse da Inglaterra nessa Guerra.
    O Brasil não tem nenhuma glória dessa guerra, não foi favorecido em nada, foi somente usado por interesses econômicos.
    Ao final desse conflito o Paraguai foi praticamente destruído e o Brasil também saiu perdendo, pois a popularidade de D. Pedro II caiu e a oposição aumentou com os movimentos abolicionistas e republicanos ganhando as ruas.

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  4. Em 11 de junho, as esquadras dos almirantes Tamandaré e Barroso destroem a frota paraguaia na Batalha do Riachuelo. Em 18 de setembro, tropas paraguaias rendem-se em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, na presença do imperador dom Pedro II.
    Solano López recua da estratégia ofensiva e concentra as forças em torno do sistema de fortalezas que resguardam o território paraguaio, como as de Curupaiti, Humaitá e Curuzu. Em 1866, as primeiras divisões de soldados aliados, comandadas pelo general argentino Bartolomeu Mitre, invadem o Paraguai.
    A contra-ofensiva da Tríplice Aliança cresce em 1867 e 1868, sob o comando dos brasileiros Manuel Luís Osório e Luís Alves de Lima e Silva, o duque de Caxias.
    De julho a dezembro de 1868, os Aliados vencem os paraguaios em Curupaiti, Humaitá, Itororó, Lomas Valentinas e Angostura. Em janeiro de 1869 entram em Assunção, capital do Paraguai. Solano López retira-se para o norte do Paraguai, onde resiste até ser assassinado em Cerro Corá, em 1º de março de 1870.

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  5. Paraguai era um dos países com a melhor economia da América Latina, decidiu invadir as provincias da Argentina, Brasil e Uruguai pra aumentar seu território. Os três países atacados se uniram e formaram a tríplice aliança para se defender, receberam apoio da Inglaterra, Grã Bretanha, que tinha interesses no abalo da economia de um país latino e idependente com uma economia como a do Paraguai. No final das contas os Paraguaios não tiveram sucesso, ficaram com a estrutura econômica abalada e jamais conseguiram ser um país com uma econômia tão boa. Os Países da tríplice aliança tambem sairam com a estrutura abalada e os únicos que realmente tiraram proveito do resultado dessa guerra foram os Europeus que conseguiram manter a sua ordem mundial sobre os países que dependiam deles.

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  6. A Maior Guerra da história da América do Sul,foi entre o Paraguai e uma aliança formada por Brasil, Argentina e Uruguai. A guerra dura 5 anos de 1865 a 1870 e destroi quase a metade da população do paraguai.

    As disputas pela estratégica região do rio da Prata nascem nas guerras de independência e transformam-se em luta pela hegemonia regional. Além dos interesses econômicos em torno da navegação no Prata, a questão é usada pelos caudilhos das repúblicas platinas e pelas elites dirigentes do império brasileiro para consolidar seu poder interno.

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  7. e para completar:
    a ideia dos videos foi boa.
    os comentários acima não são comentários.
    mas o trabalho está bom.

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  8. O Paraguai nunca foi uma economia independente do mercado inglês, não possuía indústrias e não era uma potência regional, mas tentava trilhar uma política externa agressiva para combater os interesses das potencias regionais que a cercavam (Brasil e Argentina)e que poderiam colocar em risco a sua existência e suas atividades comerciais, sendo a guerra um acerto de questões regionais na bacia do rio da prata, que desde os tempos coloniais assolavam a região com conflitos armados.

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